No início da década de 1940, o mundo vivia o auge da Segunda Guerra Mundial, um conflito de escala global marcado não apenas pelo confronto direto entre os Aliados e o Eixo, mas também por disputas estratégicas por territórios, rotas marítimas e zonas de influência em áreas colonizadas, especialmente na África e no Sudeste Asiático. Madagascar, uma das maiores ilhas do mundo, localizada no Oceano Índico a leste do continente africano, encontrava-se, à época, sob domínio francês desde o final do século XIX. Com a rendição da França à Alemanha em 1940 e o estabelecimento do regime colaboracionista de Vichy, diversas colônias francesas, incluindo Madagascar, passaram a ser administradas por autoridades leais ao marechal Philippe Pétain. Essa nova configuração criava um dilema para os Aliados, especialmente o Reino Unido, que temia que essas colônias pudessem ser usadas para fins militares pelo Eixo — ainda que isso não tivesse se concretizado em muitos casos. O Oceano Índico tornou-se um ponto geoestratégico vital para os interesses britânicos. Nele passavam rotas navais essenciais ligando o Reino Unido à Índia, à África Oriental, ao Oriente Médio e à Austrália. O temor de que o Japão, após os ataques bem-sucedidos em Pearl Harbor (1941) e em Cingapura (fevereiro de 1942), pudesse estender sua influência ao oeste do Oceano Índico e estabelecer bases navais em ilhas como Madagascar, levou os britânicos a planejarem ações preventivas para manter o controle das comunicações marítimas. A preocupação britânica não era totalmente infundada do ponto de vista militar, mas, do ponto de vista histórico, nunca houve indícios concretos de que o Japão pretendesse invadir Madagascar. Ainda assim, os britânicos argumentaram que, caso o Eixo utilizasse a ilha como base para submarinos (particularmente para os temidos submarinos de longo alcance japoneses tipo I), isso poderia ameaçar seriamente a segurança naval na região. Ao mesmo tempo, havia um contexto de disputa indireta entre o Reino Unido e o governo de Vichy. Após o controverso ataque britânico à frota francesa em Mers-el-Kébir, na Argélia, em julho de 1940, que resultou na morte de cerca de 1.300 marinheiros franceses, as relações entre as duas nações deterioraram-se ainda mais. O Reino Unido não reconhecia a legitimidade do regime de Vichy, tampouco sua capacidade de manter neutralidade ou autonomia em relação à Alemanha nazista. Assim, para os britânicos, o simples fato de Madagascar estar sob o controle de Vichy já era razão suficiente para justificar uma intervenção militar. Esse raciocínio levou ao planejamento da Operação Ironclad, nome dado à invasão da ilha. A operação foi planejada com discrição e realizada sem consulta prévia à liderança da França Livre, comandada pelo general Charles de Gaulle, o que gerou desconfortos políticos. A ausência de diálogo evidenciava que, para os britânicos, a questão era menos sobre a libertação de Madagascar do jugo de Vichy e mais sobre o controle estratégico do Oceano Índico. No plano interno de Madagascar, a população malgaxe encontrava-se subjugada à administração colonial, com pouca ou nenhuma participação política. A guerra que se aproximava da ilha não envolvia seus interesses diretos, mas logo os habitantes seriam impactados por combates, deslocamentos, censura e repressão. Em suma, o contexto da Batalha de Madagascar revela uma sobreposição de dinâmicas: a lógica expansionista das grandes potências em tempos de guerra, a fragilidade dos territórios colonizados diante de disputas imperiais, e o uso de justificativas estratégicas para intervenções militares unilaterais. A ocupação britânica foi apresentada como medida de “proteção”, mas na prática tratava-se de uma reafirmação da lógica colonial que permitia às potências europeias invadirem e controlarem territórios não europeus sob o pretexto da segurança global.