A ocupação de Madagascar pelas forças britânicas em 1942, embora militarmente bem-sucedida para os Aliados, teve consequências profundas e duradouras tanto para a ilha quanto para o cenário global da Segunda Guerra Mundial. No plano local, a Batalha de Madagascar marcou uma nova fase de militarização do território colonial, com impactos diretos sobre a vida cotidiana da população malgaxe. A presença de tropas estrangeiras, os combates prolongados, os deslocamentos forçados e as requisições de recursos afetaram severamente comunidades locais que, em sua maioria, não tinham qualquer relação com o conflito europeu. 

A mudança do controle de Vichy para os britânicos — e, posteriormente, para a França Livre — não significou o fim da dominação colonial, mas sim sua reformulação dentro de um novo alinhamento de poder. Muitos malgaxes esperavam que a guerra, ao fragilizar os impérios europeus, abrisse caminho para maior autonomia ou mesmo independência. No entanto, tal expectativa seria frustrada no curto prazo. Após a transferência da ilha para o controle da França Livre em 1943, a administração colonial foi restabelecida com novas promessas de modernização e participação, mas mantendo estruturas de exclusão e coerção. Essa experiência reforçaria, anos depois, os sentimentos anticolonialistas que culminariam na insurreição de 1947, um dos levantes mais violentos contra o domínio francês em território africano. 

Em nível internacional, a ocupação de Madagascar teve um papel importante na consolidação da estratégia aliada no Oceano Índico. O controle da ilha permitiu ao Reino Unido garantir a segurança de suas rotas marítimas vitais, protegendo o abastecimento de tropas e matérias-primas entre o Oriente Médio, a Índia, a África Oriental e o sudeste da Ásia. Além disso, serviu como um alerta preventivo de que colônias sob administração de Vichy poderiam, a qualquer momento, ser alvo de intervenção — o que influenciou diretamente ações posteriores no norte da África e no Levante. A operação também evidenciou as tensões políticas dentro do campo aliado. O fato de os britânicos terem agido unilateralmente, sem coordenação com a França Livre de Charles de Gaulle, gerou fricções diplomáticas que repercutiram nos fóruns internacionais e na imprensa da época. Madagascar se tornava, assim, um símbolo não apenas das disputas territoriais da guerra, mas também das complexas relações de poder entre os Aliados. 

Outro aspecto frequentemente ignorado nos relatos tradicionais da guerra foi a colocação de minas marítimas em ilhas remotas do Oceano Antártico e Subantártico. Em 1º de novembro de 1941, a marinha australiana, sob o comando do Capitão George Moore, realizou uma operação de reconhecimento na Ilha Kerguelen, localizada no sul do Oceano Índico. O objetivo era averiguar se os portos naturais da ilha estavam sendo utilizados por invasores comerciais alemães como refúgio e base de operações contra rotas marítimas aliadas. Com base nas investigações realizadas, a Austrália instalou minas magnéticas marítimas em quatro pontos estratégicos das entradas dos portos da ilha, incluindo Port Jeanne d'Arc, antiga estação baleeira francesa. Essas minas permaneceram ativas por décadas e são citadas na literatura especializada até os dias atuais. Esse episódio, relatado por Hugh Farmer na edição de junho de 2017 da Naval Historical Review, destaca como a ameaça percebida de ação inimiga levava os Aliados a estender sua vigilância e presença militar até os pontos mais isolados do globo. 

Portanto, a Batalha de Madagascar, muitas vezes ofuscada por eventos mais grandiosos da guerra, representa um microcosmo das contradições do conflito: a luta contra o fascismo coexistindo com a manutenção do colonialismo; a cooperação aliada permeada por disputas internas; e a presença militar global afetando diretamente povos periféricos cuja voz era silenciada nos gabinetes das grandes potências. Seu legado, tanto para Madagascar quanto para o mundo, é uma lembrança das complexidades da guerra e das promessas não cumpridas da liberdade.